sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O bom cheiro e o meu cheiro




Fãs enlouquecidos estão revoltados comigo. Eles defendem o ato profano — de interpretação dúbia — de cheirar a Bíblia como se fosse cocaína. Chamando-me de religioso, fariseu, etc., argumentam: “Não importa como o Evangelho é pregado, mesmo que seja com fingimento”. Ora, quem diz isso está torcendo Filipenses 1.18. Por quê?

Porque, na aludida passagem, o apóstolo Paulo, preso na cidade de Filipos, se referiu aos opositores do Evangelho, isto é, os judeus que o acusavam perante tribunais de Roma. Ao acusarem Paulo, tais inimigos do Evangelho eram obrigados a dizer que ele estava pregando sobre a morte e a ressurreição do Senhor Jesus.

Eles tinham de afirmar que, para o apóstolo Paulo, Jesus estava acima de César, visto que o título de Senhor, à época, não implicava apenas senhorio. O imperador romano, como senhor de Roma, era adorado. E, nesse caso, Jesus, como Senhor, também era adorado pelos cristãos, tomando o lugar de César. Ou seja, os judeus que acusavam Paulo estavam, com isso — indiretamente —, pregando o Evangelho! E o apóstolo se regozijava com esse resultado, a despeito de sofrer por amor a Cristo.

Segue-se que a frase “Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira” (Fp 1.18) não deve ser empregada de modo generalizante, a fim de afirmar que os crentes, hoje, podem usar todos e quaisquer meios para propagar o Evangelho. Cheirar a Bíblia como se fosse cocaína é uma aberração, uma profanação, uma sandice — repito. Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm ou edificam (1 Co 6.12; 10.23). A Bíblia diz, inclusive, que devemos fugir da aparência do mal (1 Ts 5.22).

Mas o problema maior é o tipo de cristãos que o evangelho-show, o da “loucura sem limites”, tem produzido. São pessoas — a maioria jovens — que se comportam como fãs enlouquecidos de seus ídolos. Eles se dizem transformados pela pregação do pregador fulano de tal, porém não agem como discípulos de Cristo, que andam como Ele andou (1 Jo 2.6). Xingam, usam linguajar mundano, ameaçam, mostram-se revoltados, como se fossem militantes extremistas, tudo para defender os seus ídolos.

Em 2 Coríntios 2.15 está escrito: “Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem” (ARA). Bom cheiro de Cristo, aqui, alude a pregação da verdade, influência positiva, boa conduta, autoridade, postura exemplar, linguagem sã e irrepreensível, idoneidade, etc. Quando os salvos têm compromisso com o Evangelho e um bom testemunho, sabe o que acontece? Deus, por meio do seu povo, “manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento” (v.14).

Como já disse, neste blog, quando pregamos um “evangelho pop”, um “evangelho extravagante”, um “evangelho louco”, produzimos “cristãos pop”, “adoradores extravagantes”, “evangélicos loucos”. Entretanto, à luz da Bíblia, não devemos ser loucos! É o mundo que nos considera loucos, quando pregamos a Palavra da cruz, o Evangelho puro e simples (1 Co 1.18). O homem natural, que não compreende as coisas do Espírito, considera loucura as “coisas do Espírito de Deus” (1 Co 2.14).

“Qual é o problema em cheirar de Bíblia, pastor Ciro?”, alguém poderá perguntar. Sinceramente, o problema não está em cheirar a Bíblia, propriamente. Eu mesmo gosto do odor das páginas dos livros, especialmente os novos. O problema está no mau exemplo de cheirar o Livro Santo como se fosse uma droga. Por outro lado, tenho tomado esse episódio profano e deplorável do pregador (pregador?) que cheirou a Bíblia como se estivesse cheirando cocaína — que é apenas a pontinha do iceberg, no mundo das invencionices gospel — para enfatizar que o evangelho-show não é o Evangelho da cruz de Cristo e, por isso, tem exalado um mau cheiro neste mundo.

Amém?

Ciro Sanches Zibordi

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